A acupuntura é um
método terapêutico antigo, utilizado há aproximadamente 5000 anos no oriente.
Foi criada na China, sendo mais tarde incorporada ao arsenal terapêutico da
medicina em outros países orientais como o Japão, Coréia e Vietnã.
Achados arqueológicos da Dinastia Shang (1.766 - 1123 AC) incluíam até
agulhas de acupuntura e carapaças de tartarugas e ossos, nos quais estavam
gravadas discussões sobre patologia médica. Mas o primeiro texto médico
conhecido e ainda utilizado pela Medicina Tradicional Chinesa é o Tratado de
Medicina Interna do Imperador Amarelo (Nei Jing Su Wen), escrito na forma
de diálogo entre o lendário Imperador Amarelo (Hwang-Ti) e seu ministro,
Qi Bha, sobre os assuntos da medicina, segundo alguns autores durante a
Dinastia Chou (1122 – 256 AC). Outros textos clássicos surgiram
posteriormente, entre eles a Discussão das Doenças Causadas pelo Frio,
O Clássico sobre o Pulso, O Clássico das Dificuldades (Nan Ching) e o
Clássico sobre Sistematização da Acupuntura e Moxa.
A palavra acupuntura origina-se do latim, sendo que acus significa
agulha e punctura significa puncionar. A acupuntura se refere, portanto,
à inserção de agulhas através da pele nos tecidos subjacentes em
diferentes profundidades e em pontos estratégicos do corpo para produzir o
efeito terapêutico desejado. Mas, na verdade, acupuntura é uma tradução
incompleta da palavra chinesa Jin Huo (ou Tsen Tsio) que significa metal
e fogo. Para tornar uma longa história curta: os pontos de
acupuntura distribuídos pelo corpo podem ser puncionados com agulhas ou
aquecidos com o calor produzido pela queima da erva Artemisia vulgaris,
(mais conhecida como moxa ou moxabustão). Podem ainda ser estimulados por
ventosas, pressão, estímulos elétricos e, mais recentemente, lasers.
Acupuntura e moxabustão fazem parte da chamada Medicina Tradicional Chinesa que
inclui ainda uma fitoterapia bastante sofisticada.
Os chineses, ao longo destes milhares de anos, descreveram cerca de 1.000
pontos de acupuntura, dos quais 365 foram classificados em catorze grupos
principais. Todos os pontos que pertencem a um dos grupos são ligados por
uma linha imaginária na superfície do corpo denominada meridiano.
Os doze meridianos principais controlam o pulmão, o intestino grosso, o
estômago, o baço, o coração, o intestino delgado, a bexiga, o rim, o
pericárdio, o “triplo-aquecedor”, a vesícula e o fígado. Existem
também dois meridianos localizados no centro do corpo, um que passa pela frente
e outro pelas costas. Todos os pontos de acupuntura ao longo destes meridianos
afetam o órgão mencionado, mas não necessariamente da mesma
maneira. Para os chineses tradicionais, nosso organismo é formado
de matéria e energia e é justamente a parte energética, a força vital ou Chi
que circularia nestes meridianos e todas as doenças seriam conseqüentes a um
distúrbio da circulação do Chi. Embora este conceito tenha norteado a
prática da acupuntura ao longo destes milhares de anos é um pouco metafísico
demais para ser compreendido e aceito pelo mundo científico atual.
Evidências científicas
acumulam-se acerca da eficácia da acupuntura, e a intimidade de seu mecanismo
de ação está sendo pesquisada em muitos centros médicos do mundo, incluindo
Escolas Médicas e Hospitais Universitários na China e no nosso próprio
país.
No Ocidente, a acupuntura ganhou credibilidade principalmente por seu efeito no
alívio da dor, seja ela de várias origens. Esta é uma das razões para a
ênfase atual da pesquisa no estudo dos mecanismos analgésicos da
acupuntura. O foco de atenção tem sido o papel dos opióides endógenos
neste mecanismo. Ao longo de sua evolução, o cérebro desenvolveu sistemas
complexos de modulação (aumentar ou diminuir) da percepção da dor. Em
especial o sistema opióide (semelhante à morfina) e o sistema não opióide de
analgesia (os neurotransmissores) suprimem a percepção da dor, enquanto que o
sistema antiopióide (por ex., colecistoquinina) trabalha contra a analgesia opióide.
Opióides são liberados durante acupuntura e a administração prévia de naloxona
(droga bloqueadora que reverte os efeitos da heroína, morfina e de outras
drogas semelhantes) anula o efeito da acupuntura; porém se a acupuntura for
realizada previamente à administração de naloxona não há bloqueio do seu
efeito. Além disto observou-se aumento da concentração de endorfinas e
também de serotonina no líquido cefaloraquidiano de doentes submetidos à
acupuntura.
Mas a acupuntura não causa apenas um efeito analgésico, ela provoca múltiplas
respostas biológicas. Estudos em animais e humanos mostram que o estímulo por
acupuntura pode ativar o hipotálamo e a glândula pituitária, resultando num
amplo espectro de efeitos sistêmicos, aumento na taxa de secreção de neurotransmissores
e neurohormônios, melhora do fluxo sanguíneo, e também a estimulação da função
imunológica são alguns dos efeitos já demonstrados.
A Organização Mundial da Saúde lista mais de 40 doenças para as quais a
acupuntura é indicada. Para os chineses tradicionais existem cerca de 300
doenças tratáveis por acupuntura, entre elas, sinusite, rinite, resfriado,
faringite, amigdalite aguda, zumbido, dor no peito, palpitações, enfizema,
bronquite crônica, asma brônquica, alterações menstruais, cólica menstrual,
lombalgia durante a gravidez, ansiedade, depressão, insônia, mal-estar
provocado pela quimioterapia, dores associadas com câncer, tendinites,
fibromialgia, dores pós-cirúrgicas, síndrome complexa de dor regional,
dermatites, gastrite, úlcera gástrica, úlcera duodenal, colites, diarréia,
constipação, cefaléias, enxaqueca, paralisia facial, seqüelas de acidente
vascular cerebral, lombalgia, ciatalgia, artrose, artrites entre tantas
outras.
A pesquisa em acupuntura é importante não apenas para elucidar os fenômenos
associados ao seu mecanismo de ação mas também pelo potencial para explorar
novos caminhos na fisiologia humana ainda não examinados de maneira
sistemática.
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